Timothy Keller*
Em Atos 2, quando o
Espírito Santo desce sobre a igreja no dia de Pentecostes, acontece
outro milagre. Enquanto lá em Babel as pessoas que falavam a mesma
língua não conseguiam se entender, no Pentecostes todos os que
falavam línguas diferentes entenderam a mensagem dos apóstolos. A
maldição de Babel foi revertida. Foi uma afirmação de que a graça
de Cristo tem poder para curar as feridas do racismo. No Pentecostes,
a primeira pregação do evangelho aconteceu em todos os idiomas,
mostrando que nenhuma cultura é a cultura “certa” e que no
Espírito conseguimos a unidade que ultrapassa todas as barreiras
nacionais, linguísticas e culturais. O resultado, de acordo com
Efésios 2:11-22, é uma comunidade de “concidadãos” iguais
vindos de todas as raças. Conforme 1 Pedro 2:9, os cristãos formam
uma “nova etnia”. Na igreja, parceria e amizade acima das
barreiras raciais é uma das marcas da presença e do poder do
evangelho. Em Cristo, nossas identidades racial e cultural, embora
significativas, não são mais nossa fonte primária de
autoentendimento. Em Cristo, nosso laço com os outros é mais forte
que nosso relacionamento com membros de nossos grupos raciais e
nacionais. O evangelho nos iguala a Abraão, que deixou sua cultura
doméstica, mas nunca “adotou” nenhuma outra. Assim, por exemplo,
os cristãos chineses não renunciam à identidade chinesa para se
tornarem outra coisa, porém o evangelho lhes dá distância crítica
da cultura chinesa, capacitando-os a criticar os ídolos da própria
cultura.
Os capítulos finais da
Bíblia revelam uma época em que o povo de Deus de “toda tribo,
povo e nação” está unido (Ap 5:9; 7:9; 11:9; 14:6). No climax da
humanidade, desencadeado pela morte e ressurreição de Jesus, todo
ódio e divisão racial irão desaparecer.
Entre a promessa de
Gênesis 12 e seu cumprimento em Apocalipse, a Bíblia desfere
vários golpes contra o racismo. Deus castigou Miriã por ter
rejeitado a esposa de seu irmão Moisés porque ela era africana (Nm
12). Jonas foi repreendido porque avaliou Nínive baseado em raça e
questões políticas (a prosperidade de Nínive ameaçava Israel), e
não com base na necessidade espiritual da cidade. O apóstolo Pedro,
por meio de uma visão e da conversão de Cornélio – o centurião
gentio – aprendeu que preconceito racial é pecado (At 10:34). O
apóstolo foi levado a entender que “Deus não trata as pessoas com
base em preferências. Mas, em qualquer nação, aquele que o teme e
pratica o que é justo lhe é aceitável” (At 10:35-37). Apesar
desse testemunho, algum tempo mais tarde o apóstolo Paulo viu que o
apóstolo Pedro se recusava a comer com os cristãos gentios e
confrontou-o por seu racismo, afirmando que ele não agia
“corretamente, conforme a verdade do evangelho” (Gl 2:14). Agir
“conforme o evangelho” é viver de maneira consistente com o fato
de sermos pecadores salvos unicamente pela graça. Preconceito racial
é errado porque nega o princípio básico de que todos os seres
humanos são igualmente pecadores e salvos apenas pela graça de
Deus. De acordo com Paulo, o conhecimento profundo do evangelho da
graça deveria corroer nossos preconceitos raciais. Um teólogo
evangélico escreveu”
Uma vez que a fé é
exercitada, o cristão está livre […] para usar sua cultura como
uma peça confortável de roupa. Ele pode usar a roupa cultural
temporariamente, se quiser, como Paulo explica em 1 Coríntios
9:19-23, e tem liberdade para admirar e valorizar as diferentes
manifestações de Cristo brilhando através de outras culturas.
Quando a teologia da
graça e raça permeia a consciência do cristão, da igreja e da
comunidade, ela produz união de relacionamentos que será
instrumentalizada em revizinhar e reentrelaçar e também um
testemunho direto ao mundo sobre a realidade do evangelho.
*Extraído do livro
“Justiça Generosa – A graça de Deus e a justiça social”, pg.
129 a 131
Nenhum comentário:
Postar um comentário