C. S. Lewis | Mero Cristianismo
Na passagem em que o Novo Testamento fala que todos devemos trabalhar, ele
menciona que um dos motivos para tanto é que ‘se tenha algo para dar
aos necessitados’. A caridade é uma parte essencial da moralidade
cristã; na assustadora parábola das ovelhas e dos bodes, esse parece ser
o ponto em que tudo se transforma. Certas pessoas dizem que a caridade
deveria ser desnecessária e que, em vez de dar aos pobres, deveríamos
lutar por uma sociedade em que não houvesse pobres. Elas podem até estar
certas em dizer que nós precisamos lutar por uma sociedade assim. Mas
se uma pessoa acha que nesse meio tempo ela pode parar de ajudar os
necessitados, então ela se afastou e está bem longe da moralidade
cristã. Eu não acredito que seja possível estabelecer o que devemos dar
em termos quantitativos. Temo que a única regra segura seja dar mais do
que sobra.
Em outras palavras, se as nossas despesas com conforto, luxos e
diversão são equivalentes ao padrão comum entre os que ganham o mesmo
tanto que nós, provavelmente estamos dando muito pouco. Se as nossas
doações não nos causarem aperto ou embaraço, devo dizer que elas são
demasiado pequenas. Para muitos de nós, o grande obstáculo à caridade
não está nos luxos da vida ou no desejo por mais dinheiro, mas no medo –
medo da insegurança. Precisamos reconhecê-lo muitas vezes como uma
tentação. Diversas vezes é o nosso orgulho que impede nossa caridade;
somos tentados a gastar mais do que deveríamos nas formas exibicionistas
de generosidade e menos do que deveríamos com aquelas pessoas que
realmente precisam de nossa ajuda.
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